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| Imagem ilustrativa (IA) |
Cientistas descobriram a maior teia de aranha já registrada, com 106 m², localizada em uma caverna entre a Albânia e a Grécia. O local abriga mais de 111 mil aranhas de duas espécies que, surpreendentemente, convivem em harmonia. A caverna, que sobrevive sem luz solar, forma um ecossistema próprio, sustentado por bactérias que se alimentam de gases de enxofre. Os pesquisadores classificaram a descoberta como uma verdadeira “megacidade subterrânea de aranhas”.
A enorme colônia foi descoberta em Sulfur Cave (caverna de enxofre na fronteira entre Albânia e Grécia).
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A teia de aranha ocupa aproximadamente 100 a 106 m² de superfície da parede da caverna.
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Estima-se que cerca de 111.000 aranhas vivam nessa colônia: mais ou menos 69.000 da espécie Tegenaria domestica (aranha-teia-funil doméstica) e cerca de 42.000 da espécie Prinerigone vagans (aranha-teia-folha).
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É o primeiro caso documentado em que essas duas espécies — normalmente solitárias — formam uma colônia conjunta em larga escala.
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O ambiente é extremo: escuro, com altos níveis de gás sulfídrico (H₂S) e sem luz solar direta. A colônia prospera porque está alimentada por um ecossistema baseado em microrganismos que oxidam enxofre, midges (moscas não-picantes) que se alimentam desses microrganismos, e as aranhas que se alimentam desses midges.
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Testes de DNA mostram que as populações de aranhas nessa caverna se tornaram geneticamente distintas das populações de superfície da mesma espécie — sugerindo isolamento evolutivo ou adaptação ao ambiente subterrâneo.
🕷️Por que isso é interessante
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Desafia a noção de que certas aranhas são sempre solitárias: aqui, duas espécies encontraram um “modo de vida coletivo”.
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Mostra como em ambientes extremos — onde a vida depende de químiossíntese (em vez de fotossíntese) — surgem ecossistemas surpreendentes.
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Ajuda a entender adaptação evolutiva, isolamento genético e mudanças de comportamento em condições ambientais únicas.
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Pode estimular pesquisas adicionais sobre biodiversidade subterrânea, ecossistemas de caverna e conservação de habitats pouco estudados.
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| Tegenaria domestica |
🕷️Limitações e o que ainda não sabemos
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A estimativa de número de aranhas e área da teia é uma extrapolação; nem todos os indivíduos foram contados um-a-um.
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A razão exata para a cooperação entre as espécies (por que toleram convivência) ainda requer investigação. A hipótese principal é a falta de luz, o que reduz a agressão ou competição visual.
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O acesso humano ao local é limitado (devido aos gases tóxicos e ambiente hostil), o que dificulta estudo contínuo ou monitoramento a longo prazo.
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Ainda se desconhece a longevidade da colônia, sua história, e se é estável ou transitória.
🕷️ E como se conta tudo isso?
Os cientistas usaram métodos indiretos de estimativa populacional, parecidos com os usados em ecologia de cavernas e estudos de colônias de insetos ou morcegos.
Vamos detalhar o processo:
🕷️ 1. Amostragem por quadrantes
Os pesquisadores dividiram a área total da teia (cerca de 100 m²) em pequenos quadrantes — normalmente de 0,25 a 1 m².
Em cada quadrante, contaram cuidadosamente todas as aranhas visíveis, diferenciando entre espécies, tamanhos e estágios (adultas, juvenis, filhotes).
Depois calcularam a densidade média de aranhas por metro quadrado, e multiplicaram pela área total da teia.
Exemplo: se encontraram em média 1.100 aranhas por m², multiplicando por 100 m² = 110.000 aranhas (aproximadamente).
🔬 2. Contagem fotográfica e mapeamento 3D
Como o ambiente é tóxico (com gás sulfídrico), o tempo dentro da caverna é limitado.
Então, eles usaram:
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Câmeras de alta resolução para registrar seções da teia;
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Mapeamento fotogramétrico 3D, para calcular com precisão a área coberta;
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Softwares de análise de imagem que contam os pontos de luz/reflexos dos corpos das aranhas em fotos ampliadas.
Essas imagens foram cruzadas com observações diretas para reduzir erros de superposição (duas aranhas muito próximas sendo contadas como uma, por exemplo).
🧬 3. Identificação de espécies por DNA
Fragmentos de teia e restos de presas foram coletados e analisados geneticamente. Isso serviu para:
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Confirmar quais espécies estavam presentes;
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Estimar proporção entre elas (cerca de 62% Tegenaria domestica e 38% Prinerigone vagans).
Essas proporções foram aplicadas à estimativa total de indivíduos.
📈 4. Margem de erro
Os próprios pesquisadores informaram uma margem de erro de ±10%, pois:
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Há partes da caverna inacessíveis;
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Algumas aranhas se escondem em fendas;
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As teias se sobrepõem em camadas.
Ainda assim, o número total — cerca de 111 mil aranhas — é considerado estatisticamente robusto pela equipe, pois as amostras cobriram uma área suficiente para extrapolação confiável.
🧠 Curiosidade:
Esse método é muito parecido com o usado para estimar populações de:
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Formigas e abelhas em colônias naturais;
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Crustáceos em cavernas;
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Peixes ou anfíbios em lagos subterrâneos.
Não se busca o número exato, e sim uma estimativa populacional confiável com base em densidade média e área total.
🕷️ Fontes consultadas
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The Independent (UK) – “Spider megacity discovered in toxic cave on Albania–Greece border”
🔗 independent.co.uk -
Times of India – “World’s largest spider ‘megacity’: 111,000 spiders living together in a massive web inside a sulfur cave”
🔗 timesofindia.indiatimes.com -
Mathrubhumi English – “Rare alliance of over 1 lakh spiders: A ‘megacity’ inside a toxic cave”
🔗 english.mathrubhumi.com -
Türkiye Today – “Spiders weave record-breaking ‘megacity’ in sulfur cave on Albania–Greece border”
🔗 turkiyetoday.com -
Phys.org – “Sulfur cave spiders form world’s largest arachnid megacity”
🔗 phys.org -
Subterranean Biology (2025) – Artigo técnico da equipe de pesquisa que documentou a descoberta e a metodologia de contagem.







